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Chegado aos Restauradores, e verificando a quantidade de atletas que já lá estavam, era quase impossível ver rostos conhecidos assim de um momento para o outro. Teria que os ir procurando conforme ia caminhando para o meu local de partida.

Mas não teria que procurar muito pois à saída do Metro encontrei o Paulo Paredes, um amigo com quem já fiz várias provas e que há muito não o via. Desejados o Bom Ano, seguiu-se a minha "afilhada" Andreia Oliveira que desta vez (ao contrário do ano passado que partimos juntos), não participou na prova. Ao José Marques também os desejos de Bom Ano e lá se foi colocar no seu bloco de partida. A Isabel Almeida também lá estava.

Já dentro do meu perímetro de corrida, vejo o grande amigo Fernando Andrade e logo a seguir a Dina Mota, o José Pereira e a Mafalda da Lebres do Sado.

Dada a partida por "vagas", lá fomos correndo pela linda cidade de Lisboa, toda ela iluminada com enfeites de Natal (a Avª da Liberdade estava espantosa).

O Andrade muito rápido para o meu andamento lá se foi embora. Durante alguns km ainda aguentei a pedalada da Dina e da Mafalda, mas os meus treinos têm sido poucos e aos poucos foram-se distanciando. Passo pelos companheiros do Mundo da Corrida, António e Esmeralda, mas apercebi-me que não podia continuar naquele andamento, ainda havia a Avª da Liberdade para subir. Os meus treinos não tinham ultrapassado os 5 km e mesmo assim com paragens pelo meio, fruto da situação anómala que em 2017 tenho vivido.

Na subida, juntam-se a mim o António e a Esmeralda. Lá a fui fazendo penosamente, sempre com o apoio do António. A faltar uns 100 metros para o Marquês começo a andar. Mas pouco. Depois de contornar é só descer e aí veio ao de cima o que sempre fui, mau a subir e rápido a descer.

Com o incentivo do António lá fui pela Liberdade abaixo em liberdade plena de força e querer. No final vi a Henriqueta Solipa e a Ana Monteiro, no seu grupo de Tartarugas e...

... Assim finalizei este ano de corridas. Fiz poucas, muito poucas, espero que no próximo ano, haja uma boa viragem e volte a correr mais vezes e sentir a adrenalina que esta vida de corridas nos dá.

BOM ANO 2018

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A crónica que faltava.

Fim do último intervalo. O espetador já não se senta, ele é o próprio autor, realizador e intérprete do filme. Já não havia volta a dar. Depois dos incêndios e do esmorecimento sentido nos últimos tempos, teria que ir atrás do sonho, do que se propusera fazer muitos meses antes. Já não teria a companhia de quem disse que o faria, mas nada que à última hora o fizesse desistir. Embora mal preparado devido aos últimos acontecimentos, iria na mesma.

Levanta-se cedo. Olha através da janela, noite escura como breu. Pequeno almoço ligeiro como sempre fizera, vestido para a ação, teria que ir até ao local onde um outro transporte o aguardaria para o local de partida.

Vai por caminhos por si conhecidos, vira à direita e ali não há onde colocar o carro. Segue em frente e depara com a via em obras. Ao longe um sinal azul com seta diz-lhe que pode avançar. Não o deveria ter feito. A rua completamente destruída, com terra e pedras por tudo o que era sítio, obriga-o a ir para o local menos provável, a linha do elétrico.

Tão cedo ainda e o que ele vê? O elétrico. Ficou frente a frente com o dono da via onde estava. Nada mais podia fazer que desviar-se e foi o que fez. Foi para o barranco existente entre a linha e as obras. Com tanto azar que um dos pneus bate numa caixa de esgotos isolada porque tudo em seu redor tinha desaparecido.

Pneu furado. Mas tinha que chegar ao Cais-do-Sodré. Mete-se outra vez na linha e com o pneu em baixo chega ao local.

Com o coração nas mãos pois além do pneu podia ter havido outros estragos, apanha o comboio até Cascais.

Ali encontra amigos e a partida dá-se, tinha começado a sua última maratona. Com duas companheiras de equipa palmilha os km. Aqui e ali, o apoio de gente conhecia. Paragens porque uma das que ia era a sua 1ª maratona e não estava a aguentar, tendo tido uma pequena assistência médica, mas lá continuamos.

Quando passa no Cais-do-Sodré uma dúvida assalta-o, como estaria o carro?! Pensa ali desistir mas tinha uma missão a cumprir. Para além de ser a última maratona tinha dedicado a mesma a alguém. Tinha que a acabar.

Muitas dificuldades passou nos kms finais. Mas com o apoio das companheiras acabou.

Agora teria que ir até ao local onde estava o carro. Dorido, cansado e sem ninguém ali que lá o levasse foi de metro.

Chegado, mais nada havia senão um pneu furado que tinha comprado um mês antes.

Procura o "macaco", e o pneu suplente nunca utilizados. O "macaco" não funcionava e o pneu... vazio.

E mais uma aventura ali passou.... que para o caso não interessa pois fez a última maratona e estava só e a pessoa que lá do alto lhe sorria, agradecendo o tributo feito.

foto Margarida Henriques: com as companheiras na prova.


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O espectador/ator do filme senta-se na sua poltrona. O ar condicionado do velho cinema arrefece-lhe o corpo por momentos do calor que fazia antes de entrar no velho e decrépito local onde anos antes, fazia a delícia de uma vida ainda no início das corridas onde o prazer se sobrepunha ao agora sacrifício de ter que calçar as sapatilhas e correr pelas velhas calçadas como se não houvesse amanhã. Mas o amanhã chegou mais depressa do que tinha imaginado e a vontade esmorece dia a dia.

Ouve-se de novo o gongo. As cortinas abrem-se à sua frente e ele é de novo catapultado para o interior do filme, do seu próprio filme.

A viagem decorre sem sobressaltos. Quilómetros percorridos, as planícies alentejanas desfilam perante os seus olhos, com a terra da cor do ouro. O calor continua inclemente. Uma placa indica que a paisagem alentejana será substituída pela algarvia. Quase a chegar ao local de destino veem-se nuvens de fumo, muitas nuvens de fumo, a serra ardia.

De longe era fantasmagórico, de perto seria o inferno de Dante. Centenas de homens e mulheres tentavam apagar o que mãos criminosas tinha incendiado.

Chegado ao destino. Era já tarde e o calor não era convidativo a não ser para o almoço e depois um refrescar nas águas da piscina.

Nesse dia, o fogo seria debelado. Faz-se o rescaldo do que tinha ficado em pé, dos animais mortos, das pessoas que ficaram sem os seus haveres.

Mas foi "sol de pouca dura". Nessa mesma noite, de madrugada, o fogo reacendeu-se. E a luta dos soldados da paz volta de novo para outras paragens da mesma serra. Uma luta titânica contra a força dos elementos e mãos criminosas que se fosse no Congo do ditador Mobutu, seriam decepadas para não voltarem a fazer o mesmo. Mas vivemos numa democracia e as mãos que incendeiam podem voltar a fazer o mesmo enquanto o calor continuar.

O vento muda de direção. Ele tenta calçar os ténis para de novo voltar à estrada pois uma maratona o espera. Sente o cheiro de terra queimada. O sol fica "manchado" da cor do sangue. A cidade envolta num vermelho, a respiração dificultada pelo ar rarafeiro. As cinzas espalham-se por tudo o que é sítio. Não havia condições para correr. A lua surge tal como o sol, envolta num vermelho que vem das entranhas da serra, das chamas que lavram por mato e pinheiros, das chamas que voltam a consumir o trabalho de uma vida, os animais da sua subsistência, da lavra que mitigue a fome.

Desiste. Durante dias a serra arde, nada havia a fazer senão aguardar por melhores dias que vieram muito depois, se calhar já tarde demais.

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Objetivo: 20 km

18.08.16
Senta-se na 1ª fila. Atrás e aos lados, ninguém. Só ele e o palco. Toca o gongo. Vai iniciar o filme.

Abrem-se as cortinas, as primeiras imagens são projetadas. Ao contrário de "A Rosa Púrpura do Cairo" não sai o herói da tela, mas é o espetador que ali está, que entra no écran. Ele é o próprio filme.

A temperatura está alta. Nada convidativa para fazer um grande treino, mas tem que ser; agora ou nunca. Ontem, no prólogo, ele fizera o contrário daquilo que estava previsto, eram 5 fez 10 km. Hoje eram 12, seriam 20.

As cigarras estavam silenciosas mas foi sol de pouca dura. Parecia que estavam à espera dele para cantarem todas ao mesmo tempo. Devem-se ter enganado nas feromonas ou as cigarras de hoje já não são esquisitas. Marcha tudo o que mexe. Mudança dos tempos.


5, 10,12 km a bom ritmo. Uma paragem aqui e ali para encher os "depósitos" de água. Depois foi o sacrifício. Lembrou-se do grito da tribo Bantu que aprendeu nos Comandos «Mama Sumae» (estamos prontos para o sacrifício) mas verdade seja dita que naquele momento não se sentiu nada um guerreiro bantu. Mas quando um pé se recusava a avançar o outro seguia em frente e que remédio tinha o primeiro senão acompanhar o segundo.

Já o corpo não reagia mas avançava sempre. Pensa desistir aos 15, aos 16, aos 18 e acabou por "desistir" aos vinte.

Tinha realizado o pretendido.

Senta-se cansado, esgotado, ainda faltava um km até chegar a casa.

Levanta-se e segue. As cortinas fecham e só se ouve o silêncio. Não há palmas para um filme onde só existe uma única personagem.

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Num cinema perto de mim.

Sinopse: Quando tentava percorrer os quilómetros previstos, o calor atinge valores que fazem com que cada quilómetro percorrido seja uma tortura. A garganta seca, o suor escorre, as tonturas sucedem-se. Encontra uma pequena gruta no tempo e aguarda por dias menos soalheiros.

Acorda, as cigarras cantam mas não com o fulgor de outros dias. Nuvens aqui e ali não deixam passar os raios quentes do sol. Sozinho vai de encontro ao tempo. Pequenas gotículas refrescam-lhe o rosto. Os quilómetros passam-lhe debaixo dos pés. Será agora que consegue o pretendido?


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